Letícia Figuerêdo
2 min readNov 15, 2020

Secou.

Alguma hora da vida a gente seca. A gente tenta, mas não tem nada pra escorrer. Talvez o sangue escorra mas, nesse momento, ele não é opção. Já passei por isso. Prefiro o quente da lágrima nos olhos do que o vermelho do sangue em meus braços. As vezes dá vontade, muita vontade mesmo, de sentir dor, de sentir o queimar, ver o sangue brilhar, escorrer… mas as vezes as lágrimas bastam.

Chega uma hora que as lágrimas não escorrem mais.

Por mais que tente, por mais que sinta, elas não descem. No máximo um aperto no peito, um embrulho no estômago, e a solidão.

Quando eu decido parar pra pensar, percebo que estou mais vazia. Mas estou mais cheia de mim mesma. Olho pros lados e… não vejo ninguém. Por que será?

Aos poucos o que estava sólido vai desmoronando. Eu estava vendo as rachaduras mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Algumas coisas eu preciso entender de verdade: eu não sou responsável.

Por mais que a responsabilidade grite aos meus ouvidos e parte de mim implore pra eu resolver o problema, devo admitir e concordar: o problema não é meu.

Essa mania de querer controlar tudo e todos, que no fim, tira do controle eu mesma. Não existe controle. Tudo é tão imprevisível. Mais uma vez vejo escorrer entre meus dedos. A sensação de impotência se tornou tão constante…recorrente…corriqueira.

Estou sendo sufocada aos poucos.

Não existe referência pra nada na vida. Quebrei a cara em todos os sentidos. Até quando acreditarei no amor? Ou melhor, até quando acreditarei no respeito? Não existe mais isso. Creio que daqui a uns anos algumas palavras serão excluídas do dicionário como muitas ja foram. Algumas nações de ética que agora não tem mais espaço. Educação é uma coisa rara. Sempre tenho a sensação que sou um ET. Mas não gosto da sensação de estar “me passando" aqui enquanto escrevo. Essa impressão que sou muito certa. Quantas vezes já errei nos últimos 5min? Eu sou insuportável. É por isso a sensação de estar sempre só. De fato estou.

Lavei minhas mãos. Não faço mais esforço. Façam o que quiser, até porque eu também faço o que quero. Não grito mais, não imploro, não choro. E é por isso que agora me sinto seca. Não existe lágrima pra escorrer, não existe dor pra camuflar. Não existe mais sentimento. Ou o excesso me fez perder a sensibilidade… são muitos “talvez e ‘e se’”.

Cansei de sustentar o que não me cabe.

A falta de controle também pode ser uma forma se se defender.

Espero que esse seja só mais um fogo de palha… só mais um blefe.

Letícia Figuerêdo

"Não existe amor sem medo" Caos instalado e palavras soltas. 28 Natal-RN/BRASIL - 09/01