Diz quem fica

Letícia Figuerêdo
3 min readSep 9, 2022

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Encontros e Despedidas

Numa quinta a noite, enquanto resolvo questões de prova, o erro de pegar no celular sempre acontece. É mexendo no instagram que a gente se decepciona. Não bastasse se decepcionar com o autocontrole, também me decepciono com as pessoas. Ando pensando muito sobre a vida adulta e já faz tempo. É que as afirmações que percebemos com o tempo, com a idade, nem sempre (arrisco dizer que na maioria das vezes) não são prazerosas. A vida adulta é uma grande merda, sinceramente. Ironicamente eu sigo o mesmo padrão da infância e da adolescência, então a vida adulta, pra mim, é uma extensão (muito grande) de tudo o que já estou acostumada.

Toda vez que penso sobre certas situações, nas relações entre pessoas “especiais”, que ocasionalmente somem com o passar do tempo, a música Encontro e Despedidas ressoa na minha cabecinha. É que, veja bem, alguém poderia me mandar notícias dizendo quem fica? Sei lá, talvez poupasse certos sentimentos desagradáveis que surgem quando a gente percebe que a vida é um eterno vai e vem, de fato. Vai e vem de gente.

De todas, juro mesmo, de todas as coisas que mais me fazem refletir sobre a vida, é sobre a brevidade das relações. Isso me traz indagações onde me coloco como protagonista e me interrogo sem parar sobre eu mesma, me culpando ou duvidando de mim mesma, perguntando: e se? O problema de passar por tanta coisa e, em vez de cair fora, insistir em certas pessoas, é porque a gente se magoa, e algumas coisas nunca, jamais, irão sair daqui. A gente perdoa, mas não esquece. E aí que, de vez em quando, com certa frequência, alguns sentimentos me revisitam, como se minha cabeça fosse um túnel gigante que produz um eco constante de vozes que eu nem me lembro mais do tom, mas o que foi dito… algumas coisas não precisam de tom, nem de voz.

Me pergunto se é assim com todos. As pessoas são o que convém? São quem convém? São as fases? Os lugares? Os tempos? As pessoas são o que são quando precisam… ser. Ou são quando precisam de você.

É que na vida adulta a gente se despede sem saber sequer porque está indo, porque estão indo. Elas apenas vão. E não se trata mais em sentir coisas ou pessoas escorrendo entre os dedos. Não existe nem mesmo esse pensamento mais. A verdade é que elas nunca nem estiveram ali nas suas mãos. As pessoas sentem, pensam, mas não dizem, e assim perdem, e assim vão, e assim não mandam mensagem nenhuma explicando o por quê de não ficar.

O sentimento estranho que invade o peito ao ver fotos e pensar que era bom e chegar ao ponto de não reconhecer mais ninguém que está ali. E antes, o que era junto se tornou tudo, menos constante. A gente se pergunta onde as pessoas estão e não tem resposta de nada. Parei, inclusive, de ser a pessoa que vai atrás pra tentar entender a distância, mas sei lá, distância é tempo, e eu to ficando velha, e deve ser isso. Viciada em tempo de qualidade o suficiente pra que palavras de “estou com saudades” e nada, pra mim, signifiquem a mesma coisa.

Ando dizendo muito, pra muita gente que torço para não precisarem de mim, porque finalmente aprendi que apenas precisam. E na moral, machuca perceber certas coisas, mas conforta ter percebido. Todo dia é um vai e vem, a vida se repete na famosa estação que um dia eu tanto falei aqui, tem gente que chega pra ficar (só não sei até quando) e tem gente que vai pra nunca mais, porque essa é a sequência, e pode ter gente que foi e quer voltar, mas as coisas já mudaram tanto que talvez voltar não faça o menor sentido. Tem gente que vem só olhar e não agrega em nada. São só dois lados da mesma viagem. É a vida.

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Letícia Figuerêdo

"Não existe amor sem medo" Caos instalado e palavras soltas. 28 Natal-RN/BRASIL - 09/01